segunda-feira, 29 de março de 2010

Um Rio de lixo


“Águas que banham aldeias, e matam a sede da população”, esse trecho da música de Guilherme Arantes, retrata um pouco a função da água no meio ambiente. A qualquer pessoa, se perguntado qual é a função da água, a primeira resposta com certeza será para matar a sede. Para saciar essa vontade do ser humano, a água deve ser em primeiro lugar, pura e limpa. Como já aprendemos nos tempos do primário, a água é inodora, insípida, incolor. Agora uma pequena e importante pergunta? Como está à água do nosso Rio Iguaçu? O maior rio genuinamente paranaense. No trecho do rio que passa por União da Vitória, a situação está bastante cheia. Cheia de lixo. Assim é o cenário encontrado atualmente nas margens do rio. Lixo e mais lixo, toneladas dele. Em vistoria na semana passada, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), em parceria com a defesa civil municipal, constatou, ao ajudar na retirada das famílias ribeirinhas atingidas pelas ultimas cheias, muito lixo boiando no Iguaçu. Esses materiais, na maioria reciclável, são oriundos dos catadores de papel que vivem ilegalmente às margens do rio. Eles realizam a coleta diariamente em todos os bairros do município, levam essa material para casa e o que sobra eles deixam a deriva, quando acontecem as cheias, todo esse material acaba indo para as águas do rio. “O que nós vimos na fiscalização é muito resíduo, na maioria de material reciclável, digamos, algumas toneladas de resíduos”, destaca o coordenador de resíduos do IAP, Nelson Cleto Junior. Segundo Nelson, a principal indicação é a retirada desses resíduos do rio. E também, a retirada o mais rápido possível das famílias que vivem nessas áreas de preservação permanente (ver quadro). A maior concentração desses resíduos está no final da rua Cruz Machado, Costa Carvalho e também próximo a Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu (Uniguaçu).


Área de preservação permanente


O local onde esses ribeirinhos residem pertence à Companhia Paranaense de Energia (Copel), considerados de preservação permanente, nenhuma ligação elétrica pode ser feita ou restaurada. Com as chuvas e também o aumento do nível das águas, a rede elétrica que abastecia essas famílias foi danificada. Mas a partir de agora, a restauração não poderá ser feita, respeitando as leis ambientais. Há mais de 20 anos cinco famílias foram acomodadas na área ribeirinha ao final da rua Cruz Machado, com instalação elétrica regular. Na época as Leis Ambientais quase nem existiam, o que facilitou essa mudança. Hoje, essa realidade é bem diferente, são mais de 45 ligações irregulares que foram puxadas, os chamados gatos. São cinco faturas de luz, que abastecem 45 domicílios. Para o gerente de departamento da Copel em União da Vitória, Jackson Ayres, a principal preocupação da empresa é a saída o mais rápido possível desse pessoal. “Queremos retirar essas famílias do local de forma pacífica, ordeira e respeitando a lei”. Ayres também comenta, sobre a situação subumana que se encontram essas pessoas. “Eles até tomam água do próprio Iguaçu”. Lembrando que o nosso rio é considerado o segundo mais poluído do Brasil, perdendo apenas para o famoso Tietê, em São Paulo. Os dados foram obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os anos de 2002 e 2004. Em um acerto entre Prefeitura, Copel e a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), estão sendo construídas no bairro Lagoa Dourada, aproximadamente 48 residências para a recolocação de todo esse pessoal. Até agora, aproximadamente 11 casas já estão quase prontas. Depois que essas famílias forem retiradas do local, a concessionária deve fazer a recomposição da mata nativa, o cercado da área e também a vigilância permanente para que essas pessoas não voltem para lá, o que já ocorreu em anos anteriores. “Também queremos uma moradia digna a essas pessoas”, justifica Jackson.


Reciclagem total, inclusão social e futuro legal


Este é o título do projeto encabeçado pelo Instituto Ambiental Vale do Iguaçu (IAVI), em parceria com a prefeitura. Há três anos, o Instituto realiza um trabalho de conscientização ambiental para a separação dos resíduos sólidos e orgânicos no município. Com a parceria, o IAVI montou a Associação dos Catadores de Material Reciclável de União da Vitória. Foi adquirido um caminhão, que vai até a residência dos catadores e coleta o material para a reciclagem. “Em dois anos com o projeto conseguimos aumentar em 50% a renda dos catadores associados”, explica o presidente do IAVI, Sergio Parastchuk. Até agora, a associação tem 68 membros credenciados. Essas pessoas usam sempre colete, boné e outros adereços que podem identificar o coletor. “Um grande pedido que fazemos a toda a comunidade é procurar doar o material a pessoas que são associadas”. Segundo ele, os que ainda não se associaram possuem pendências financeiras com os chamados atravessadores, pessoas que compram o material desses catadores e depois revendem. Quem já é associado, além de conseguir ganhar mais, também tem o auxílio de alguns profissionais liberais, como dentistas e psicólogos. Já está em andamento um novo projeto que utilizaria verba a fundo perdida do Ministério do Meio Ambiente para a construção de um barracão próximo a aquelas residências no bairro Lagoa Dourada, criando mais uma opção de trabalho a esses catadores. Recentemente, a prefeitura e também o IAVI, estiveram em Caçador (SC), conhecendo um trabalho semelhante, onde uma Cooperativa já funciona e que foi construída através desses recursos. “A cooperativa, é uma maneira de profissionalizarmos essas pessoas e ainda organizar o trabalho deles”, comenta Parastchuk.


Além do lixo dos catadores


Infelizmente não é só o lixo dos catadores que vem poluindo nosso município. Uma cena que está se tornando bastante comum é o depósito de lixo em lugares desabitados, um exemplo é Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto. Uma empresa contratada pela prefeitura realiza a coleta do lixo doméstico e também do lixo reciclável, mas muitas pessoas ou empresas optam em levar esse lixo até ruas ou espaços não habitados. “Cada um deve procurar destinar seu lixo corretamente, não deixando em via publica ou em locais de pouca circulação de pessoas”, comenta o secretário do Planejamento Jamar Clivatti. Além disso, para o ano que vem a atual administração já possui um projeto de revitalização da Avenida, para transformá-la em uma moderna via de circulação. “Não podemos prejudicar o visual da Bento, então, todo mundo tem que cuidar e fazer a sua parte”, finaliza Clivatti.

Jaque Castaldon

matéria publica no jornal O Comércio de União da Vitória em 06/10/2009


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